terça-feira, março 08, 2005

Ditadura Espiritual

Hoje quero abordar com um pouco mais de profundidade um assunto que muito me incomoda e que esta trazendo muita dor e divisão ao Corpo de Cristo...

De tempos em tempos surgem movimentos que mudam a história, para melhor ou para pior. Julgar isso pode se tornar muito difícil pois muitas vezes o início é sincero, a intenção é boa, porém sempre erros são cometidos devido à carnalidade humana.

A Igreja deve sempre ser sensivel ao sopro do Espirito Santo, mas deve sempre manter acesa a chama do primeiro amor.

Existem inúmeros exemplos na história de revoluções que acabaram em tragédia. Um grande problema, que traz sofrimentos incalculáveis, é a busca por poder. Quando um ser humano pode exercer domínio sobre outro, a tendência ao abuso é muito forte. Isso pode acontecer em qualquer grupo e, infelizmente, a Igreja não esta isenta dessa doença.

No domingo li um artigo muito bom de Karin Wondracek no Jornal do Seminário (do Seminário Teológico Batista do RS), chamado Burkas Batistas. A seguir alguns trechos:

O fundamentalismo , quando entra em campo, arrasa a diversidade da “fauna e flora”, e a substitui arbitrariamente pela monocultura das idéias, tornadas dogma.
Como entender este fechamento cíclico, que tantos males tem causado? Oskar Pfister, pastor e psicanalista, tomou como base a teoria da angústia de Freud para explicar que os grupos religiosos iniciam o processo de fechamento quando se sentem ameaçados pela pluralidade de interpretação da fé. Ao invés de reagir a ela com argumentos lógicos, recorrem a expedientes autoritários que proíbem ao outro a expressão. Pfister, utilizando I João 4, diz que neste momento, já não é o amor que expulsa o medo, mas o medo expulsa o amor.
O medo e a angústia perante idéias diferentes fazem o ser humano reviver a angústia do bebê frente à perda dos rostos conhecidos do pai e da mãe. Esta angústia reage com indignação e susto frente ao estranho e tenta expulsá-lo arbitrariamente, recriando o ambiente conhecido e tranquilizador.
De que forma acontece este movimento no grupo religioso? Uma comunidade de fé, quando se sente ameaçada, regride às formas mais arcaicas de defesa: Expulsa os pensadores divergentes, escolhidos inconscientemente para representarem a função de bode expiatório e assim produzirem alívio. A coesão do grupo é reassegurada através deste alívio e também da intimidação das ameaças, pois estas, quase sempre, acontecem com uma desmoralização pública, embasada numa interpretação de um texto, no qual um detalhe é descontextualizado e assume o papel principal.
O grupo ameaçado reafirma as palavras conhecidas, as formas de interpretação familiares, e cria códigos que não permitam mais a irrupção do estranho inquietante. Este silenciamento nem sempre é feito de forma explícita, pois também pode ser feito indiretamente, não atacando o objeto em si, mas através de mecanismos e burocracias minuciosas que então criam obstáculos para que os que ameaçam tenham vez e voz.
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Pfister observa que na história da igreja os dogmas sempre foram firmados em tempos de angústia e incerteza, de medo da perda dos referenciais. Este o triste destino da devoção dos fariseus - grupo nascido a partir do desejo de agradar a Deus mas que lançou fora a busca originária pelo amor e apenas passou a se preocupar com minúcias de leis. Este destino também se repete na história de muitos grupos cristãos, onde o amor expulsou o medo e a convivência já não é fraterna.
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A psicanálise ajuda a entender que a angústia perante a alteridade4 faz com que já não se raciocine a partir do principal. A angústia torna as pessoas defensivas: a verdade que ameaça é reprimida, e se racionaliza as atitudes tomadas, achando até textos para justificar a falta de amor. Foi assim nos tempos da Inquisição, quando a queima de uma mulher ou de um herege, mesmo após sua confissão de fé, era justificada como um caminho piedoso para estes alcançarem o céu, antes de pecarem novamente.
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A intolerância religiosa aos diferentes sempre foi a marca dos que lidam com o poder de um jeito humano e decaído, mas jamais foi o sinal dos filhos de Deus que vivem os frutos do Espírito.
Que Deus nos ajude a continuar amando, discernindo e denunciando, espelhando-nos nas palavras e atitudes de Jesus, e que Seu amor para com homens, mulheres e crianças seja a marca para qualificar o que Deus quer de nós como Igreja que se diz Seu corpo!

A autora, Karin Hellen Kepler Wondracek, é psicóloga e psicanalista, mestra em teologia, professora no Seminário Teológico Batista do R.G.Sul e na Escola Superior de Teologia (EST). contatos: wondracek@brturbo.com

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Pô. Não li o seu post pois é muito grande. Vou ver depois. Não sei se tem a ver com o q vc escreveu, mas a frase que está martelando em minha cabeça nessa semana é aquela q o Hully disse:
"Eu amava como amava o pescador, que se encanta mais com a rede do que com o mar"

quarta-feira, março 09, 2005 12:58:00 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Grande Garcia... Realmente aquela musica não sai da minha cabeça....

Mas Rolf que texto maravilhoso, comprimeto-o por te-lo colocado em seu blog...
[]s Gui

quinta-feira, março 10, 2005 8:41:00 AM  

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